VOZES
NEGRAS
Aprendendo sobre o passado para entender o presente e ressignificar o futuro!
DO CALADO AO LOQUAZ
Depois de anos sendo silenciados e forçados a ressignificar toda uma vida, vamos conhecer um pouco do que foi a vida desse povo quando chegou ao Brasil e veio até Jundiaí.
Para aqueles que ainda não conhecem ou não se recordam, Jundiaí começou como um ponto de parada, como esse que fazemos quando as viagens são longas e duram muitas horas ou dias. Para resumir Jundiaí foi um Graal por um bom tempo.
Perto do fim do século XVII os passageiros começaram a se instalar na cidade, e ao inicio do século XVIII a mão de obra escrava se inicia, primeiramente pelos índios que ali já viviam e foram assim como em todo o país expulsos de suas casas e terras, mas uma curiosidade que não aprendemos na escola é que naquele momento em que varias outras cidades já existiam incluindo a capital do estado de São Paulo, os índios não poderiam ser mais escravizados. A igreja e a coroa portuguesa mantinham como lei que a mão de obra desse povo fosse recompensada, onde suas terras e um pagamento deveria ser fornecido. Os índios era denominados de administradores e seus registros deveriam ser feitos em documentos comandados pela igreja, além de seguir a regra de que caso algum fosse violento a escravidão poderia ocorrer.
Mesmo com regras regidas pela própria coroa, ainda se era possível ver o povo indígena sendo escravizado. No meio do século XVIII e início do século XIX a população de Jundiaí começou a crescer e a necessidade de mais mão de obra veio como consequência e é nesse momento em que nossa comunidade vem para o município, de maneira forçada e sem saber o que os esperavas aqui. A caminhada árdua e dura dos negros em Jundiaí iniciou pelo café e alavancou a agricultura na cidade, a fazenda Nossa Senhora era a referencia na produção e a que mais escravizou negros, tendo até hoje a senzala intacta e aberta para quem se interessar.
Os navios negreiros vieram em massa para as américas dando inicio ao massacre escravocrata mais longo que conhecemos ou achamos que conhecemos. O tráfego humano já ocorria em Portugal, a cidade já foi considerada a maior portadora de escravos, termos como mercado negro iniciaram por lá, em Lisboa e Lagos por exemplo, principais cidades com maior concentração de escravos, mercadorias de pessoas retintas (negros com a pele mais escura), de pele escura, ou simplesmente diferente dos países europeus. A história mostra que o irmão de Dom Pedro, Dom Henrique sequestrou e vendeu milhares de pessoas do continente africano e do oriente médio, a ilha de Lagos foi o local de troca de dinheiro por pessoas. Por muitos anos a maioria da população do mundo foi de escravos e hoje a população do Brasil é de miscigenados.
A mistura de raças em Jundiaí, São Paulo e no Brasil, se deu por inúmeros motivos, falta de homens negros e brancos, relações não consensuais e a de apagamento da cultura negra. No século XIX os registros feitos para separar a população negra da população branca já não começavam a fazer sentido, as características físicas já não eram mais perceptivas e esses registros foram chegando ao fim e uma nova definição de raça surgiu, a parda. O termo mulato (mulata) também foi muito usado e ainda é por algumas pessoas mas remete a uma relação não consensual, resultando em um filho bastardo na época da escravidão, depois desse momento a mistura ainda era vista como algo ruim mas diminuía a cultura negra e com o tempo foi sendo aceita e cada vez mais pessoas com pais de duas raças foram surgindo.
O problema dessa mistura não está nas relações mas em como os negros deixavam sua ancestralidade, cultura e nome para ressignificar sua vida dentro da sociedade em que foram obrigados a resistir.
Vozes Negras está aqui então mostrando um pedaço do que se foi encontrado, guardado, reservado e o que está sendo disseminado para as pessoas. Conhecer de onde vem e como foi a vida dessas pessoas é importante para que se continue relembrando e aumentando a ancestralidade de pessoas que lutaram para sobreviver.
Para conhecer mais e se reencontrar dentro dessa comunidade, volte algumas páginas e conheça um pouco da região de Jundiaí, a cidade turística italiana e portuguesa, escravocrata e hoje procurando sua ressignificação.